29 Feb 2020

Nem

Tenho tantos cansaços que não sei como os chamar, cansaços plurais e histriónicos, cansaços que percorrem em mim caminhos sinuosos, costas abaixo, como um fio de mel espesso. Estendo-os esticando as pernas com o crepitar da lareira em fundo, um copo de tinto meio vazio que se afasta na medida em que distendo este corpo feito de horas e dias e meses, de tempo, chuvas e estações, e de mim, de calor e maresia, da bruma das manhãs, ajeito em circunferência o cabelo de medusa e penso qualquer coisa 'mostra-me esses silêncios de que és feito' e palavras assim que aparecem soltas e em qualquer momento. Sabem os deuses os seus desígnios e porque sou visitada por elas. Entendesse eu de deuses e de desígnios, e tudo seriam preces e orações. São palavras apenas, estas. Alimento a voracidade da lareira, e tento nada pensar para que o sono me visite. Nem em cansaços nem em frases nem em palavras nem em homens nem em mulheres. Nem

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