Meu querido Oeste,
Escrevo-te um último
#postal_de_férias deste pedaço de areia com o mar em frente para te agradecer o
verão. É agosto, dia último, e este ano deixaste-me amar-te, sabes bem como é
difícil, sabes bem, meu amante de sempre.
Neste pedaço de areia
passa uma brisa suave. É fim de verão, a maré está a subir e em breve terei de
mover-me uns passos mais acima, de toalha atrás, posso até distrair-me e
chamares-me suavemente com uns salpicos nos pés ou acordar-me sem cerimónia e
fugirei agarrando atabalhoada chinelos e toalha. És assim, de furores, de
apetites, de caprichos. Subirei uns passos, dizia, até me expulsares em
definitivo da praia. Não vale a pena teimar contigo, és impetuoso, soberano,
irado, e eu, como sempre fiz, e talvez farei, resta-me obedecer-te, que
remédio, sucumbir a essa tua força. Podes gabar-te, se quiseres, és o único, o
único que me mantem obediente e quase submissa, fosses tu homem, meu Oeste,
misto de deuses e demónios, e ter-te-ia voltado as costas, altiva e irritada,
onde já se viu? Mas não, és outra coisa qualquer que me viu menina, fez mulher,
é de ti que também sou feita, desses aromas, perfumes de mar com que me seduzes
às vezes e que inspiro como se me insuflasse vida, esse salgadiço que trago no
corpo desde criança e me entesa o cabelo, é o mesmo, sempre o mesmo, esses
raios de sol de verão e de outono, ele virá a seu tempo, que me penetram a
alma, e me beijam o corpo.
A maré subiu
entretanto, não terei muito tempo já, e tenho pois de cumprir ao que venho
neste singelo postal. Foi um verão bonito, comigo estendida ao sol nesta praia,
como noutros tempos, sem preocupações, lânguida e feliz, foste tu, meu querido
Oeste. Talvez pudesses ser sempre assim. Talvez não. Não devemos mudar a
natureza das coisas. Esta é a tua.