Há coisas na cozinha que não
permitem criatividade, só experiência, um rigor espartano em tempos, medidas,
procedimentos. E se tivesse perdido a mão? -ocorre-me por milésimos de segundos
enquanto envolvo o caramelo nas claras em castelo. E se de repente tivesse
desaprendido o que não se aprende, a mão, o jeito, o que se põe de nós,
invisivel, intangível, inquantificável. E se ao perder a mão, me tivesse
perdido, nunca se sabe quando as coisas acontecem, e o que se perde primeiro,
nós, ou a mão, ou o jeito. E se me tivesse perdido? A sobremesa ficou boa. Não
me perdi.