15 Oct 2019

Os bois pelos nomes


Corria o ano da  graça de dois mil e dezanove, e ditava o acaso, destino ou universo, prosaicamente apenas a minha profissão, que me encontrasse em Frankfurt, com cinco adolescentes a meu cargo e na companhia de um colega. Chovia a chuva miudinha que dizem ser dos tolos e por essa mesma razão albergava sob o meu chapéu comprado na estação de comboios o mais alto dos adolescentes, tão  desbragado quanto genuíno, com quem soltámos risadas igualmente genuínas e espontâneas. A vida de professor tem muitas risadas e alguns disparates, e somos todos felizes assim.
Caminhávamos lado a lado na ponte sobre o Main, almadiçoando a chuva os dois, observando los alemães no seu habitat, e os turistas a serem turistas, quando os meus olhos pararam sobre o stencil na parede mesmo em frente. Raio de sentido de oportunidade. Quem, mas quem é que pôs aquilo ali naquele preciso momento? Aquele manto mais parecia sagrado, o raio da coroa para baralhar isto tudo, e podia até ser uma nossa senhora, mas como neste corpo mora pecado, o que via à minha frente era uma vulva, coroada mas uma vulva, uma vulva rainha, caramba, uma mulher conhece-se. O ser a meu lado continuava na sua vida de adolescente, vendo isto e aquilo, reclamando da chuva, e grato pelo passeio extra, por esta altura já tinha tomado o meu guarda-chuva azul escuro e de gatinhos de assalto, enquanto eu rezava  à santa da coroa para que tudo passasse rápido, bastava dar uma volta e a vida retomaria a sua ordem natural, talvez do  alto do seu metro e noventa a santa passasse despercebida ou passasse mesmo por santa, quanta ingenuidade neste corpinho de cinco décadas, mas tal não aconteceu, sorte não é comigo. OLHA, AQUILO É UMA VAGINA! reclamou bem alto. Não era. Estas inexatidões em relação ao #sexo feminino é que me tiram do sério. Vulva, rapaz, era uma vulva.