Corria o ano da graça de dois mil e dezanove, e ditava o
acaso, destino ou universo, prosaicamente apenas a minha profissão, que me
encontrasse em Frankfurt, com cinco adolescentes a meu cargo e na companhia de
um colega. Chovia a chuva miudinha que dizem ser dos tolos e por essa mesma
razão albergava sob o meu chapéu comprado na estação de comboios o mais alto
dos adolescentes, tão desbragado quanto
genuíno, com quem soltámos risadas igualmente genuínas e espontâneas. A vida de
professor tem muitas risadas e alguns disparates, e somos todos felizes assim.
Caminhávamos lado a lado na ponte
sobre o Main, almadiçoando a chuva os dois, observando los alemães no seu
habitat, e os turistas a serem turistas, quando os meus olhos pararam sobre o
stencil na parede mesmo em frente. Raio de sentido de oportunidade. Quem, mas
quem é que pôs aquilo ali naquele preciso momento? Aquele manto mais parecia
sagrado, o raio da coroa para baralhar isto tudo, e podia até ser uma nossa
senhora, mas como neste corpo mora pecado, o que via à minha frente era uma
vulva, coroada mas uma vulva, uma vulva rainha, caramba, uma mulher conhece-se.
O ser a meu lado continuava na sua vida de adolescente, vendo isto e aquilo,
reclamando da chuva, e grato pelo passeio extra, por esta altura já tinha
tomado o meu guarda-chuva azul escuro e de gatinhos de assalto, enquanto eu
rezava à santa da coroa para que tudo
passasse rápido, bastava dar uma volta e a vida retomaria a sua ordem natural,
talvez do alto do seu metro e noventa a
santa passasse despercebida ou passasse mesmo por santa, quanta ingenuidade
neste corpinho de cinco décadas, mas tal não aconteceu, sorte não é comigo.
OLHA, AQUILO É UMA VAGINA! reclamou bem alto. Não era. Estas inexatidões em
relação ao #sexo feminino é que me tiram do sério. Vulva, rapaz, era uma vulva.
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