10 Jul 2020

Frampton comes alive

Isto deve ser por lá uma resposta a um estímulo que foi assim que os behavioristas apelidaram este processo de reagir sem pensar a algo que nos toca. Eu sou um animal bastante reagente. Não posso ver mar que me apetece cheirá-lo, não posso ver uma imagem de ouriços, ostras, um belo gin tónico, que me apetece comê-los e tomá-lo, e se vir uma cidade bela apetece-me correr-lhe para os braços e fazer-lhe amor, o erotismo do belo é tramado, graças aos deuses coibo-me de cheirar pescoços perfumados, este meu nariz é a minha bússola, a minha desgraça e a minha felicidade sensorial, a minha vida.
Acontece o mesmo com a música e as palavras. Umas levam a outras, o Chardonnay conduz-me para o 'Ironic' da Alanis Morissette, o que não é mau porque é uma grande canção. Se ouvir 'Jump" é sempre Go ahead, jump, se estiver contrariada ouço 'You can't always get what you want' e se andar colorida 'She's like a rainbow.' Em dias de trevas, e tenho alguns, é Amy, sempre, este processo de arranhar feridas é bem mais preocupante do que o behaviorismo, nos ocasos de outono Johnny Lee Hooker, 'something's gonna change', e como sou falta de ar 'Breathe' assalta-me muito, ora de Midge Ur ora de Pearl Jam, mais 'just' menos 'just'. E depois disto tudo, aqui está ao que venho: é que tenho encontrado o Peter Frampton ali na estrada nacional quando vou e venho de Mafra. Está magrito, usa sempre a mesma t-shirt e uns calções, a trunfa não engana e nos meus ouvidos só ouço 'oh won't you, show me the way/ I want you show me the way'. Há dois dias que ando nisto. Não podia ser antes o Lenny Kravitz, ou Jon Bon Jovi, ou o Ben Harper ou o Sting com menos dez anos? Podia ser que conseguisse esquecer a música se visse estes miúdos no passeio pedonal, estrada nacional 116. 'I want to get away, I wanna fly away'.

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