25 Jul 2020

O vizinho mudou. Estendo as pernas ao sol para Oeste. Não há brisa. Há vento a cansar os canaviais, o chapéu de sol geme e retiro os chinelos do sol. São pretos e sei que me aquecerão as solas dos pés em fornalha quando os voltar a calçar. São 16.54. Não posso deixar passar a hora do anti-inflamatório, lá para as 17.30, quando o sol tiver descido e o meu corpo for todo iluminado pelo astro-rei, não é o caso agora, e também não é importante porque agora mesmo sopra um vento mais forte e tocam as badaladas do sino da aldeia dois minutos antes do esperado e ninguém quer saber de corpos ao sol, vento e Oeste. Se pudesse enterrava os pés na relva e mexia os dedos alternadamente, tão infantil e inesperado como quando saio a porta e respiro as noites frescas que me açoitam os braços e bebo o silêncio das noites mudas. Que me terá dado para passar a apreciar a morrinha das noites de nevoeiro e o açoite fresco nos braços? Mudei. Se calhar. Talvez mais do que o vizinho que largou Lady in Red e agora ouve Ed Sheeran e a Cardi B com outro caramelo qualquer. Antes assim. Mudámos todos e mudamos sempre, que os deuses nos permitam a mudança.
São 17.14 e não me posso esquecer do anti-inflamatório.

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