24 Sept 2020

People are strange

Uma mulher tem um dia preenchido, abandona as aulas e a escola, e esperam-na compras ridículas de supermercado: não havia detergente para a louça. Adentra o dito estabelecimento que evita tanto como janeiro, repara que há vinhos em promoção, compra uns sprays desinfetantes, cápsulas para café, que acabe o mundo menos café e pores-do-sol, deixa que baixe sobre ela o deusnossosenhor dos jantares frugais, uma salada iceberg coroada com um abacate em meias-luas, para a seguir ceder a Diónisos e Lúcifer e comprar um chouriço de porco preto cheio de gordura e inomináveis substâncias malévolas e pecadoras, que Apolo me perdoe, um pedaço de queijo amanteigado da Terceira que casa na perfeição com o Picaroto que repousa paciente no frigorífico, e manda às urtigas a intenção da frugalidade, adia-la-á para dias também eles frugais e desinteressantes. Falta-lhe álcool para castigar o chouriço e o ver a retorcer-se na chama excitada pela gordura. Volta quase ao ponto de partida, ao corredor de tampões de ouvidos e preservativos e  procura álcool, simplesmente álcool como a Maria do folhetim da rádio, benzadeus, a esta hora estará a fazer tijolo, pobre alma sofredora. Aguarda-a uma exposição abundante de álcool, mas gel. Ele há de vários tamanhos, espessuras e texturas diversas, aromas e fins distintos. Há de tudo. Um escaparate inteiro que àquela hora me confundia e desesperava. Faltava apenas álcool a 96°, daquele bravo que arde em força. Voltar para trás era refazer planos. Não depois de ter o Assobio no carrinho e uma terrível vontade de conforto. Vi-me pois na contingência de usar álcool-gel a cheirar a lavanda, o rosmaninho fica quase sempre bem com a carne, e isto porque não havia com cheiro a tomilho, o casamento perfeito. Os Doors é que a sabiam toda: 'Strange Days'.

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