A minha escrita voltou. Sei que
voltou porque há pouco enquanto me esticava nas sandálias prateadas para
alcançar uma caixa de chocolates negros na última prateleira do supermercado,
ela agarrou-se por trás pela cintura no vestido cinzento. O toque subtil na
cintura de uma mulher esticada, a braços com a sua pequenez mas na senda de
alcançar algo mais alto, não é nunca indelével. Apanhou-me de surpresa claro.
Ainda a sacudi, desejei-a muito, é certo, ali não era momento de escrita,
porém, um toque mais violento ou desajeitado e poderia desequilibrar-me e lá se
ia tudo de novo. A escrita vive de equilíbrios instáveis, mas equilíbrios. Como
todas as vontades é teimosa, voluntariosa e não se ficou. Perseguiu-me até à
caixa, esgueirou-se e sorrateira acomodou-se no carrinho, entre os alperces e o
rosé que estava a bom preço e uma mulher gosta de bebidas rosadas. Anda por aí
à solta, cansou-se do rosé e está muito calor no carro. Querida, escrita, minha
deseja e amada escrita, esperas um bocadinho?
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