3 Jul 2018


A minha escrita voltou. Sei que voltou porque há pouco enquanto me esticava nas sandálias prateadas para alcançar uma caixa de chocolates negros na última prateleira do supermercado, ela agarrou-se por trás pela cintura no vestido cinzento. O toque subtil na cintura de uma mulher esticada, a braços com a sua pequenez mas na senda de alcançar algo mais alto, não é nunca indelével. Apanhou-me de surpresa claro. Ainda a sacudi, desejei-a muito, é certo, ali não era momento de escrita, porém, um toque mais violento ou desajeitado e poderia desequilibrar-me e lá se ia tudo de novo. A escrita vive de equilíbrios instáveis, mas equilíbrios. Como todas as vontades é teimosa, voluntariosa e não se ficou. Perseguiu-me até à caixa, esgueirou-se e sorrateira acomodou-se no carrinho, entre os alperces e o rosé que estava a bom preço e uma mulher gosta de bebidas rosadas. Anda por aí à solta, cansou-se do rosé e está muito calor no carro. Querida, escrita, minha deseja e amada escrita, esperas um bocadinho?

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