A Genoveva estava sentada na
última carteira e depois de ter perscrutado o teste que lhe chegara às mãos,
atirou-me com um ar sério 'stora, a stora fez um smile no meu texto'. Fiz? Sim.
'É porque escreveu algo de que gostei' A
Genoveva não se deu por vencida e continuou com um ar intrigado, que raio de
bicho lhe havia de calhar este ano que faz smiles no que escreve. Desci ao seu
lugar, também eu inquieta, isto de ser professor produz cansaços vários que se
reproduzem exuberantes nesta época do ano, sabe-se lá o que me teria passado
pela cabeça, se a caneta não me teria resvalado nesta fúria classificadora . A
Genoveva estendeu-me o teste com prontidão, li a frase e disse ' e então, isso
que disse não é bonito?' Ah, respondeu, é!
Hoje o Eleutério estava sentado
no seu mundo, no seu mundo não estaria sentado, voaria por certo, porque o
Eleutério voa muito entre retas e paralelas, perpendiculares e sobrepostas, e
tem um mundo só seu que reparte com folhas imensas de papel branco. 'Gostei
muito do seu trabalho' disse-lhe. O Eleutério abriu os olhos em surpresa,
inclinou-se levemente para trás, levou a mão ao peito e questionou assustado
'do meu, stora?' 'Sim, do seu, ora!' O Eleutério balbuciou algo meio sem jeito
e continuou na sua vida de linhas e papel branco, algo inquieto com esta mania
de os professores elogiarem o trabalho dos alunos.
Não sei muito bem em que ponto os
alunos se desabituaram de ouvir um elogio, as pessoas, de resto, ou se alguma
vez se teriam habituado, mas a vida sem um elogio é um terreno seco de onde só
brotam vazios. Não me habituarei.
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