O rapaz com a cadela branca
malhada de preto levantou-se. Está agora do outro lado da rua à conversa com um
rapaz igual a ele, do mesmo tamanho, só em azul escuro e sem cadela. O casal
descontraído com os gémeos de cerca de um metro cada um também já se foram.
Atrás de mim sentam-se quatro mulheres que pressinto, não vejo, e a conversa
oscila entre 'mas estás a gozar comigo?' e 'não tens frio?' e 'olha, vamos para
aquela ali'. Há uma refilice constante nestas quatro mulheres de idades
diferentes, duas delas ainda não sabem que são mulheres, saberão a seu tempo. A
conversa é interrompida porque alguém chegou, uma voz de homem e outra de
mulher. Trocam cumprimentos, imagino que votos de bom ano. As quatro mulheres
desaparecem entretanto. Não estão do outro lado da rua numa outra cor e
tamanho, e sei que não estão porque desapareceu o perfume intenso e irritante,
uma espécie de inquietação miudinha que se me penetrou na pituitária e sabem os
deuses do que este meu olfacto de beagle é capaz. Restabelecida a ordem,
aconchego-me no casaco de pêlo cor de labrador e no cachecol do Nepal, nem sei
porque vos falo destes pormenores, e penso que todos podem errar, até o Pai
Natal que lhes trouxe aquele perfume irritante. É por isso que não acredito
nele.
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