Muitos rostos, muitos sonhos,
muitos cansaços, muito amor e desilusão. Sentam-se todos à nossa frente nesta
vida de ser professor. Umas vezes recolhemo-nos no conformismo de se ser
adolescente, há-de passar, foi um momento mau, mas não pode ser, fale com ele
ou ela, sim? e às vezes penso que também já fomos todos um bocadinho assim,
mais coisa menos coisa, adolescentes, tolos, intempestivos. Não o seremos
ainda? Assinamos papéis para atestar sabe-se lá a quem que estivemos em x dia a
x hora a tratar de assuntos do seu educando e uma grande parte das vezes há
cumplicidades, silêncios e sorrisos, que não cabem naquele rectângulo estúpido
como todos os rectângulos estúpidos que reduzem tudo a estatísticas que se
dissiparão algures num relatório igualmente estúpido capaz de provocar frémitos
de alegria em barras coloridas na vertical que se julga indicar coisas,
estúpidas também elas. Valem zero.
Sentou-se algumas vezes à minha
frente, esta mulher de rosto doce e discretamente alegre e modos também doces e sempre educados. Nunca precisou de me
dizer que o seu regaço era grande e generoso. Era-o. Falávamos do que falam
duas mulheres, uma professora e outra mãe. Via-a algumas vezes ao ir para a
escola quando ela continuava mãe e eu
professora mas já não do filho que fez com que os nossos caminhos se tivessem
cruzado. Cumprimentavamo-nos na fugacidade dos dias que nos devoram e que a
haviam de devorar numa madrugada de crueldade sem explicação. Tinha 50 anos. A
mulher, mãe dedicada, continua comigo. Amanhã recebê-la-ei na sala de
directores de turma com hora marcada e depois de amanhã vou vê-la a passar na
rua do lado direito quando eu for a caminho da escola. Sorriremos uma para a
outra, eu dentro do carro, ela fora, e entender-nos-emos sem mais, como fizemos
antes. Amanhã.
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