Update da vida a Oeste: hoje está
sol. Já não acordei com a morrinha outonal, o hibisco não tem gotículas de
orvalho, quem sabe se não terei hoje de, na hora da quietude, regar o
manjericão e dar um jeito à hortelã. Hoje posso andar de calções sem sentir que
a qualquer momento terei de me socorrer das meias da Serra da Estrela que não
tenho para compensar o gelo que perspassa as coxas robustas cor de lula deste
prolongado outono/inverno. Hoje posso soltar o corpo decadente e abandoná-lo na
ideia de estio, deixá-lo libertar-se ali na espreguiçadeira sobre a relva para
sentir que o calor de que tanto preciso me ame. Hoje, se calhar, ainda bebo um
gin tónico na hora dos crepúsculos do mundo e sento-me de pés nus na relva bem
assentes, os pés na terra, a ver o dia a cair, não está frio nem chove, quem
sabe passará um barco lá longe na linha periclitante que separa os céus dos
mares, a luz das trevas. Se calhar terei ainda de correr veloz atrás do copo,
do corpo, do estio, das várias vontades do mundo, e isto porque está um
vendaval que me enxugou e açoitou quatro máquinas de roupa: lençóis,
cobertores, mantas e mantinhas e outras miudezas de que não se deve falar em
público. Lavasse eu esta casa com uma medida bem cheia de detergente e algum
amaciador para equilibrar as asperezas da alma e ainda teria de a ir buscar ao
oceano que todos os dias perscruto da janela da cozinha. Com um bocadinho de
sorte aterraria num outro lugar, limpa e perfumada e começar-se-ia de novo. A
Oeste nada de novo. Só vento. E palavras.
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