És tu outra vez, sorrateiro dos
infernos. Mordiscaste-me os tornozelos enquanto me derrubava nuns afazeres,
quase garantiria que me lambeste a panturrilha que trago nua neste estio
arredio. Eu sei que eras tu. Não negues. Agora que espero um outro afazer e me
abandono no sofá, fizeste-te convidado e impuseste-te. As mãos firmes na
cintura que deixaste escorregar pela ânfora das minhas ancas quando me levantei
resoluta. Sabes bem, esses humores de aparecer quando queres cansam-me,
irritam-me e às vezes apetece-me deitar-te fora quando vou ao lixo, não mereces
muito mais, ou levar-te comigo quando caminho junto ao mar e libertar-te lá do
alto, em dias menos maus, que ficasses com as gaivotas. Chato impertinente. Se
viesses à noitinha, na hora dos silêncios, podíamos ser tão felizes,
amaciar-me-ia em ti, largaria sonhos e pesadelos e em uníssono inspiraríamos a
noite e o luar, estrelas e constelações, que Vénus nos abençoasse e Júpiter nos
protegesse. Não insistas agora. Vai -te embora, sono matreiro. Vai -te, fico
com o silêncio, não contigo.
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