Saio do carro e vou ao encontro
do mar. Está vento, uma brisa fria, o mar revolto e maré despudoradamente
vazia. Começo a caminhar com o mar pela esquerda e começo a escrever. Palavras
e frases que se juntam e fazem texto. Escrevo sempre. Escrevo muito quando
tenho o corpo entretido. Há gente com quem me vou cruzando, o perfume do mar e
a brisa que me açoita o corpo e o cabelo. O aroma dos pinheiros imiscui-se
neste encontro com o mar e comigo. Intrometido. Escrevo algo sobre a bênção de viver num sítio destes, a uma distância
de 10 minutos, com mar e céu, e azul até onde a vista alcançar, e largo
cansaços e negritudes que voam com a ventania. Depois penso em algo sobre a
perfeição, que aquele momento seria perfeito, se não houvesse carros, e que a
perfeição é enfadonha e irritante, a sua busca inimiga de Eros, e continuo.
Faz-se zénite entretanto, uma rabanada de vento forte leva-me as palavras e os
textos, ainda corri atrás deles mas a arriba era alta, o vento forte e senti
que eles precisavam de liberdade pela força com que me fugiram e o coice de um vocativo. Vi 'ses' e
'quandos' a voar, as vírgulas rodopiavam com o vento e as exclamações
despenharam-se na areia, o ponto pesa de mais para voos. Havia expressões como
'quando o mar se põe nu' e 'a inação estrangula-me as palavras', 'o vestido abraçou-me
com a volúpia dos amores impossíveis' mas fugiu tudo. Menos isto.
Pequeno, simples e encantador. Quase que senti o vento nos meus cabelos, aqui sentada com as janelas fechadas. Esse vento. Esse cheiro....
ReplyDeleteQue bom que te fez sentir tanto.
ReplyDeleteBeijinho